Uma imagem, 140 caracteres/12ª edição

Precisava disso. A chuva morna, caindo sobre mim. Reparei à minha volta e agradeci. Percebi o que quer dizer realmente "lavei a alma". Estou livre!

Minha participação na blogagem coletiva do Christian.
Mais? Aqui: http://escritoslisergicos.blogspot.com.br/2013/06/um-imagem-140-caracteres-12-edicao.html

Espírito Santo

Os Dons do Espírito Santo


"Por mais escura e longa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar."
 

 ESPIRITO SANTO, abençoai a mim e à minha família, meu lar, meus amigos e até meus inimigos, porque com eles também aprendi.  
 Guardai meus bens espirituais, meus sonhos, projetos e esperanças. 
 Sejais meu advogado e exercei a Vossa infinita sabedoria e o poder para defender-me dos problemas que me afligem.  
 Protegei-me dos males que me cercam e afastai aqueles que só querem a minha perdição.  
 Hoje peço-Vos que me concedais a benção de .........(dizer o pedido). 
 Reafirmo-Vos o meu comprometimento em difundir o Vosso Nome, a Vossa Luz e Vossos poderes. 
 Em nome de Jesus o Salvador e do Senhor Deus do Universo. 
Amém.


(Muitas vezes ficamos magoados além da conta.
Mesmo que não se deseje mal a quem nos ofendeu, guardar lembrança do que nos foi feito é o pior.
Sempre acredito que nada nos cai nas mãos, ou nos olhos, ou nos ouvidos, ou no corpo, sem que exista uma razão.
Por isso divulgo a oração.
Pode ser que ajude a mais pessoas, como me ajudou).

Não sei que título dar a esse post. Vou escrevendo, até achar um.
Deletei o post anterior porque resolvi não me manifestar mais sobre o assunto, mesmo sendo através da visão de outras pessoas. Por enquanto, não.
Só vim dizer que não sou omissa.
Não sou pessimista.
Não sou ativista.
Não sou contrária a manifestações. Sou contra vandalismo, óbvio.
Não compactuo com quem afirma que vandalismo são pessoas no chão, sem atendimento, em hospitais.
Como que justificando que se vandalize nas manifestações, que "é isso mesmo que  eles merecem".
Quem merece ter sua loja quebrada?
Quem merece ver monumentos pichados?
Quando foi que depredar se tornou direito de alguém?
Quanto menos agressivos formos, melhor.
Como é que se pode divulgar, pelo Facebook, vídeos dos quais não sabemos a procedência?
Vi um vídeo com pessoas carregando alguém ferido e a pessoa que veiculou o vídeo dizendo que a polícia impedia o acesso dessas pessoas para uma saída, socorrendo o ferido, enquanto outra disse, nos comentários, que estava lá e, ao contrário, policiais cercavam o ferido e quem o ajudavam, levando-os para fora da confusão. 
Alguém noticia que helicópteros estavam sobrevoando a avenida do tumulto e jogando bombas nos manifestantes. Sem nenhuma foto dos helicópteros, nenhum flagrante do noticiado. Num desrespeito ao momento.*
No mesmo vídeo, no post enganoso, a pessoa destratava o governador de Minas, falando barbaridades dele. Não coloco o governador Antônio Anastasia como "farinha do  mesmo saco" onde estão a maioria dos nossos políticos. Não por ser Minas. 
Mas, também, não tenho que provar nada pra ninguém, cada um pense como quiser.
Fico horrorizada com o tanto de babaquices que estão sendo compartilhadas no Facebook.
O jeito é me calar.
Mostrar o lado bom da vida, que de horrores já tive minha cota.
Hoje li que o rapaz (um dos) que caiu do viaduto está se recuperando bem. A foto que o Estado de Minas, dignamente, publicou não em manchete, mas num caderno interior, mostrando o corpo dele todo torcido, nitidamente com as pernas e os braços quebrados, está bem (os outros, tb), não corre risco de morrer. 
Então, vou me ater a fatos, não a boatos.
E ficar o mais calada possível.
Usufruindo da minha inteligência, da minha lucidez, do meu conhecimento.
Passei da idade de acreditar em tudo e falar abobrinhas num assunto sério.
Sou a favor de que o Brasil acorde.
Já dormimos demais, deitados em berço esplêndido.
Salve, pátria amada, Brasil.

(continuo sem título. Sugestão?)
*Hoje, 25/06, pela primeira vez li algo sobre helicópteros terem jogado bombas em manifestantes: (Pág.18 do caderno Gerais, jornal Estado de Minas) " Nos relatos apresentados aos promotores, os colaboradores do movimento relataram que um helicóptero da PM sobrevoou o local onde se concentravam manisfestantes e lançou bombas de efeito moral sobre a multidão. A comissão solicitou à Polícia Civil e ao Ministério Público apuração imediata das responsabilidades individuais daqueles que, de ambos os lados, iniciaram os confrontos. Mais de 1500 vídeos estão sendo analisados, além de depoimentos de manifestantes e policiais."
Na verdade, eu nem deveria ter começado esse assunto, estou "defendendo" Minas e a polícia mineira de quê, de quem?  Que pensem o que quiserem, deem crédito ao que bem entenderem.

Uma imagem/ 140 caracteres/ 11ª edição

Dentro do seu abraço é onde me sinto seguro, preso por laços invisíveis. Como se fossem garras de ferro, me aprisiono entre seus braços.

(Minha participação. Confira as demais: http://escritoslisergicos.blogspot.com.br/2013/06/uma-imagem-140-caracteres-11-edicao.html)

Seguir em frente



 Cheguei numa idade em que muitas coisas que não fiz, certamente não faria mesmo, independentemente de ter chance ou não. Coisas ligadas a valores, moral, etc.
Penso em tantas coisas que podia ter feito e não fiz. Por medo. Preguiça. Falta de incentivo.
Vieram-me à mente coisas simples, que passei mesmo da idade de fazer, coisas importantes, que devia ter feito e aquelas que citei, que não faria mesmo, nunca.
Não é questão de me arrepender, não. A vida segue um curso, como um rio, somos meros remadores, nem sempre a corrente nos leva para onde queremos. (Ou é comodismo pensar assim?!)
O fato é que agora não posso mais: andar na chuva, num dia bem quente, deixando os pés na enxurrada. (corro o risco de uma pneumonia);
tomar um porre homérico, falar tudo o que eu queria, pra quem quer que fosse, sem risco da pessoa ficar "de mal" comigo pro resto da vida. Pensando bem, pra que precisar de um porre pra ter coragem? 
Mudando: ter a coragem de poder falar o que quisesse, com quem quisesse, sem correr o risco da pessoa nem querer me ver depois! Mas não era para "detonar" com a pessoa, apenas falar o que penso dela, sem ofensas, o que me incomoda em seu comportamento, essas coisas. Como se meu jeito de ver as coisas mudasse o mundo...
De muitas coisas que nunca faria, tenho certeza: saltar de bungee jump, pular de paraquedas, escalar uma montanha gelada, navegar por meses a fio, subir em um elefante ou em um camelo, voar de asa delta, andar de navio, acampar no mato, andar na montanha-russa, voar em um balão e tantas, tantas aventuras mais. Nunca fiz, nunca tive vontade, nunca farei, de jeito nenhum.
Não sou movida a desafios, adoro o comodismo, o previsível, o certo e seguro.
Das coisas que não fiz e queria ter feito, a principal é ter feito uma faculdade, ter um diploma que me habilitasse a ter um bom emprego, ser uma boa profissional.
Gostaria de ter me encantado pelo magistério, sei que seria uma ótima professora. Ou me estressaria muito, ou seria uma ferrenha contestadora desse sistema idiota que não prioriza a educação.
Sou acomodada, valente nas palavras, mas pobre nas ações.
Não há como culpar-me da minha própria mediocridade. É o que menos adianta.
Hoje, diante desse mundo conturbado em que vivemos, deixar soltos nossos filhos e netos acaba sendo angustiante.
Mas, ao mesmo tempo, a vida tem que seguir um curso e não há muito a fazer para interferir.
E eu, que queria dizer umas tantas outras coisa, embolei tudo e me perdi.
Li outro dia, no Facebook e trouxe pra cá.
"Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada que percorreu, para os cumes, as montanhas, para o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.E somente quando ele entrar no oceano é que o medo desaparecerá, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano." (Osho)

Caminhar, correr, movimentar-se

 
 "Quando eu estava prestes a completar 50 anos, um amigo me disse que naquela idade começava a decadência. Então resolvi fazer alguma coisa legal para comemorar a data e tive a ideia de fazer uma maratona. Já comecei a correr pensando nos 42 km.
Pouco tempo depois, outro amigo me passou um programa de treinos e fui seguindo como podia. No fim daquele ano, corri a Maratona de Nova York em 4h01. Isso foi em 1993, e desde então já participei dessa prova mais umas sete ou oito vezes. Também já corri em Chicago, Berlim e Joinville — meu melhor tempo é de 3h38, em 1994, em Nova York.
A maratona é minha distância preferida. Ninguém corre 42 km sem estar preparado, todo mundo ali sabe o que está fazendo, então existe muito mais respeito. Já participei de alguns revezamentos e provas menores, mas não gostei. Também fiz a São Silvestre e detestei, achei uma bagunça.
Treino duas vezes por semana no Parque do Ibirapuera e nos fins de semana procuro correr no Minhocão ou no centro da cidade. Aí vario os trajetos: passeio pela praça da Sé, largo de São Bento, Mercado Municipal. Cada treino varia entre 15 e 25 km, depende de quanto tempo tenho.


Também subo os 16 andares do meu prédio duas vezes por semana. Vou pelas escadas e desço pelo elevador, onde aproveito para ir me alongando. Repito isso entre oito e dez vezes. É puxado, mas me dá um fôlego danado e com certeza me ajuda a correr melhor.
Se as pessoas fizessem mais exercício, ficar parado seria menos penoso para o corpo. Quando se é sedentário, você se levanta e logo tem que se sentar de novo — e aquilo não nos descansa. Quando você corre bastante e senta, é uma sensação muito boa.
Sempre levo meu tênis quando vou viajar. Tem coisa mais gostosa do em um dia de congresso você se levantar cedinho para treinar? Corro 2 horas e depois passo o resto dia sentado, sem culpa, ouvindo as pessoas falarem sobre os assuntos de que eu mais gosto. É uma delícia.
Para mim, a corrida é um antidepressivo maravilhoso. Sou muito agitado, faço muitas coisas e a corrida também me ajuda a relaxar. É o momento em que fico em contato comigo mesmo, vejo minhas limitações, e isso me deixa mais com o pé no chão. Por isso não corro ouvindo música e prefiro treinar sozinho.
No ano passado, fiz a Maratona de Berlim em 4h12. Depois pensei que se tivesse feito 2 minutos a menos teria me qualificado para Boston. Não quero estabelecer essa meta porque tenho medo de me frustrar, mas, se este ano eu conseguir fazer uma maratona em menos de 4h10, posso comemorar os 70 anos correndo em Boston.
Não tenho nenhum cuidado especial com alimentação. Antes do treino, bebo uma água de coco ou como uma fruta. Depois tomo café com leite e como pão, azeite e tomate. Não estou convencido de que existe um benefício real nesses géis e vitaminas, aminoácidos. Durante a maratona só bebo água, não tomo nem isotônico. Como cortei açúcar da minha alimentação há 34 anos, tenho medo de ficar enjoado e passar mal.



O exercício só é bom quando ele termina. Durante, é sofrimento. Às vezes você até libera uma endorfina no meio e dá uma sensação boa, mas o prazer mesmo vem quando você acaba.
Quem faz atividade física tem um envelhecimento muito mais saudável. Tenho quase 70 e não tomo nenhum remédio, peso 3 kg a mais do que na época da faculdade. As pessoas dizem: “Você é magro, hein? Que sorte!” Não é sorte, tenho que suar a camisa todos os dias.
Eu corro porque estou convencido de que o exercício físico é contra a natureza humana. Precisamos combater essa inércia. Nenhum animal desperdiça energia, ele gasta sua força para ir atrás de comida e de sexo ou para fugir de um predador. Com essas três necessidades satisfeitas, ele deita e fica quieto. Vá a um zoológico para ver se você encontra uma onça correndo à toa. Ou um gorila se exercitando na barra. Por isso é tão difícil para a maioria das pessoas fazer atividades físicas.
Um exemplo disso são meus pacientes. A grande maioria são mulheres com câncer de mama. Muitas passam por quimioterapia, perdem o cabelo, têm enjoos, fazem cirurgia para retirar parte do seio. E enfrentam esse processo com tanta coragem que fico até emocionado. Depois disso tudo, falo para elas que, se caminharem 40 minutos por dia, cortam pela metade a chance de morrer de câncer de mama. Esse índice é maior do que o da quimio, mas menos de 1% das minhas pacientes começam a fazer exercício. Vai contra a natureza humana. (isto é uma ironia, digo eu, Lúcia).
Muita gente fala que não tem tempo de fazer exercícios. Dizem que acordam muito cedo para levar os filhos à escola, que trabalham demais, que têm que cuidar da casa. Antes eu até ficava com compaixão, mas hoje eu digo: isso é problema seu. Ninguém vai resolver esse problema para você.
Você acha que eu tenho vontade de levantar cedo para correr? Não tenho, mas encaro como um trabalho. Se seu chefe disser que a empresa vai começar um projeto novo e precisa que você esteja lá às 5h30, você vai estar lá. Você vai se virar, mudar sua rotina e dar um jeito. Por que com exercício não pode ser assim?
Nós temos a tendência de jogar a responsabilidade sobre a nossa saúde nos outros. Em Deus, na cidade, na poluição, no trânsito, no estresse. Cada um de nós tem que se responsabilizar pelo próprio bem-estar e encontrar tempo para cuidar do corpo. É uma questão de prioridades.
Se você não consegue fazer exercício de jeito nenhum, pelo menos tem que ter consciência de que está vivendo errado, que não está levando em consideração a coisa mais importante que você tem, que é o seu corpo.
Este ano pretendo correr as maratonas do Rio e de Chicago. Se fizer abaixo de 4h10, me qualifico para Boston."

  

(Drauzio Varella (70 anos) é oncologista e já publicou 11 livros, entre eles Estação Carandiru.) 

Li este texto no Facebook e como é muito pertinente para mim, que estou tentando me animar a caminhar, resolvi deixá-lo aqui no blog, para ser um incentivo. Não é um texto novo, possivelmente foi escrito há pelo menos uns 2 anos e nem tenho certeza se é do Dráuzio Varella, mas bem pode ser. As partes onde usei itálico e negrito são as que preciso ler sempre, para entender que não há desculpas para nos movimentarmos. Basta querer. Antes de precisar.

Uma imagem - 140 caracteres/10ª edição


Acabou. Tentei até o último minuto. Perdi-me de mim. De nós. Fim.

Participando da Blogagem Coletiva do Blog Escritos Lisérgicos.

Ando acompanhando essa blogagem, mas nunca participei. Hoje essa foto muito me intrigou e achei bem controvertidas as reações sobre ela. Por isso resolvi participar. 

Folha Amassada



"Quando criança, por causa de meu caráter impulsivo, tinha raiva à menor provocação.
Na maioria das vezes, depois de um desses incidentes me sentia envergonhado e me esforçava por consolar a quem tinha magoado.
Um dia, meu professor me viu pedindo desculpas, depois de uma explosão de raiva, e entregou-me uma folha de papel lisa e me disse:
A M A S S E – A!
Com medo , obedeci e fiz com ela uma bolinha.
- Agora, deixe-a como estava antes. Voltou a dizer-me.
Óbvio que não pude deixá-la como antes. Por mais que tentasse, o papel continuava cheio de pregas.
O professor me disse, então:
- O coração das pessoas é como esse papel. A impressão que neles deixamos será tão difícil de apagar como esses amassados.
Assim, aprendi a ser mais compreensivo e mais paciente.
Quando sinto vontade de estourar, lembro daquele papel amassado.
A impressão que deixamos nas pessoas é impossível de apagar.
Quando magoamos alguém com nossas ações ou com nossas palavras, logo queremos consertar o erro, mas é tarde demais...
Alguém já disse, certa vez:
- Fale somente quando suas palavras possam ser tão suaves como o silêncio.
Mas não deixe de falar, por medo da reação do outro.
Acredite, principalmente em seus sentimentos!"
(Fenix Faustine)_(Não encontrei nada que me levasse a essa autoria. Encontrei esse texto no Google, quando procurava algo sobre a raiva). 

A raiva me moveu, hoje, e ela nunca é boa conselheira.
Cansei de querer ser palmatória do mundo. Preciso de paz. Preciso aprender que nem todos são como eu e que não posso querer que deem o que não têm. Simples assim.
Que cada um viva de acordo com o que seu coração mandar.
Não é assim que está sendo ensinado, exaustivamente, pela internet? Hoje impera o "primeiro eu", "se não estiver bem comigo, não poderei estar bem com ninguém" e tantas frases de efeito, cujas usei muito por aqui.
A verdade é uma só: não somos uma ilha, precisamos uns dos outros, por mais distante que isso possa parecer. 
"Hoje por mim, amanhã por ti".
É muito mais fácil ser feliz, mas hoje me tiraram do sério!

O outro pé da sereia / Mia Couto


Não é uma resenha sobre o livro, pois não sou capacitada para isso.
Só  minha opinião sobre ele.
Para começar, uma leitura não muito fácil, embora no mesmo bom e velho português nosso de cada dia, já que o autor é moçambicano.
Claro, para mim, que o livro é uma pérola para quem aprecia o estilo. Nunca li nada do autor, Mia Couto, então não posso fazer nenhuma comparação com outro livro seu.
A leitura fluiu bem, embora sem muita emoção, porque a curiosidade pelo desfecho do destino da santa me envolveu e fiquei o tempo todo esperando que esse pé tivesse um papel importante na história.
A história, mesclando passado e presente em torno do mesmo objeto, a santa, confundida com uma sereia, é interessante e rica. O autor tem um bom humor sutil.
Mas os personagens me pareceram muito estranhos, bem rasos, meio sem vibração.
O jesuíta português D. Gonçalo da Silveira sai de Goa, na Índia, para chegar ao reino do Monomotapa, na África, a fim de converter seu imperador à fé cristã.  Esta é a única parte não ficcional da história. Pois realmente D. Gonçalo da Silveira existiu e foi mesmo de Goa a Moçambique, onde viveu por alguns anos, como catequista. (Aqui)
Nessa viagem, ia com o jesuíta uma imagem de Nossa Senhora, que foi motivo de cobiça já dentro do navio e onde foi violada por um escravo, que foi pego em flagrante cortando a imagem, da qual já tinha serrado um dos pés. Nimi Nsundi foi preso no porão do navio e o pé da imagem nunca foi encontrado. Para o escravo, ela era Kianda, a deusa das águas. O ato de lhe serrar os pés era para deixá-la livre para as águas.
Tudo é muito fascinante no livro, mais do que uma ficção, me pareceu uma brincadeira para o autor,  misturar figuras tão distintas e estranhas.
O nome dos lugares: Vila Longe e Antigamente, são significativos para a história.
Os personagens são curiosos, imaginei-os num filme, alguns bem caricatos.
A arrogância dos brancos, chegando em terras da África, pretensamente para ensinar, mas querendo mesmo modificar a essência de um povo é presente no livro.
Só lendo para entender o contexto das frases abaixo, mas acho que elas existem por si mesmas.
Boa leitura, para quem se arriscar.
  • Em todo o mundo é assim: morrem as pessoas, fica a História. Aqui, é o inverso: morre apenas a História, os mortos não se vão. (O Barbeiro de Vila Longe)
  • A melhor maneira de fugir é ficar parado.
  • A melhor maneira de mentir é ficar calado.
  • A mulher regressava à sua condição de esposa: retirou-se, convertendo-se em ausência.
  • Não é o corpo que me pesa, é a alma. A velhice é uma gordura na alma.
  • Aprenda a desconfiar de homens que contam boas histórias.
  • Não é a nossa raça que os atrapalha: é a cor da nossa alma que eles não conseguem enxergar.
  • Nascemos e choramos. A nossa língua materna não é a palavra.O choro é nosso primeiro idioma.
  • Nós temos de lutar para deixarmos de ser pretos, para sermos simplesmente pessoas.
  • Agora estou certo: ser negro não é uma raça. É um modo de viver. E esse será, a partir de agora, o meu modo de viver.
  • Não são os grandes traumas que fabricam as grandes maldades. São, sim, as miúdas arrelias do cotidiano, esse silencioso pilão que vai remoendo a esperança, grão a grão.
Antônio Emílio Leite Couto, mais conhecido por Mia Couto, nasceu em 5 de Julho de 1955 na cidade da Beira em Moçambique. É filho de uma família de emigrantes portugueses. 
 Mia Couto publicou os seus primeiros poemas no jornal Notícias da Beira, com 14 anos. Iniciava assim o seu percurso literário dentro de uma área específica da literatura – a poesia –, mas posteriormente viria a escrever as suas obras em prosa. Em 1972 deixou a Beira e foi para Lourenço Marques para estudar medicina. A partir de 1974 enveredou pelo jornalismo. Em 1985 abandonou a carreira jornalística.(Google)