Janeiro 2015

Os dias passam "voando", como tem sido de uns anos para cá. Até criança tem percepção dessa passagem tão rápida do tempo, um fenômeno que não se explica, porque o dia continua tendo 24 horas. 
As novidades e a pressa em viver têm sido tantas que há essa sensação de menos horas em nosso dia.
Hoje filha e netos voltaram para casa, depois de longas férias, antecipadas pela doença da mamãe. Foram 41 dias, menos os 12 em que foram para a praia. Dias bons, com a alegria de ter os netos em casa. Muita bagunça, muita comilança, muita briga, muita falta de paciência em algumas horas, muito riso, alguns momentos de choros, entre eles. 
Muitos momentos de solidão, meus, onde me trancava no quarto e deixava a dor extravasar, pela situação da minha mãe. Muitos "plantões" junto a ela, muita agonia em saber o quanto é inútil esperar por sua recuperação, embora para Deus nada seja impossível.
Os dias se seguirão uns aos outros, conforme a marcha do tempo.
A mim resta esperar que dias melhores realmente virão, pois esses 47 dias de hospitalização de minha mãe, ainda que com a alegria da presença da filha e dos netos, foram dias de completa desilusão.
Claro, passei a fase de "brigar" com Deus. Por que ela? Por que aos 89 anos? Por que depois de uma vida de lutas, essa tristeza de ir para uma cama e lá ficar, como uma boneca? 
Não há respostas para tantas perguntas. 
Porque tinha que ser. Porque "estava escrito".
Não acredito que "Deus quis assim" nem que "Deus sabe o que faz". 
Não acho que seja da "vontade" Dele. 
Lembro-me do texto "Pegadas na areia", que mostra que só vemos um par de pegadas porque nos momentos que mais precisamos Ele nos coloca nos braços e caminha conosco. Deve ser assim, devo estar sendo carregada por Ele. 
Não reclamei do calorão, não sinto fome, por mim viveria de sorvete...
Não perdi a alegria, afinal os netos me faziam esquecer, por muitos momentos, mas perdi a capacidade de sorrir, porque é muito duro saber que "a vida continua", enquanto alguém que você ama está numa cama, sem ação, sem reação. 
Há possibilidade, sim, de dividir os momentos e viver "normalmente". Vou conseguir.
É preciso ter consciência de que a vida é hoje. Amanhã, quem saberá o que nos reserva o dia?
Ela acordou, naquele 10 de dezembro, deu "bom dia" para a moça que cuidava dela, tirou a camisola, vestiu-se e foi ao banheiro, onde o AVC aconteceu. Assim, sem mais. Sem avisar. Sem dor. Sem alarde. E levou-lhe a voz, a capacidade de deglutir, os movimentos de pernas e braços. 
Eu parei no tempo, passei com ela a noite de Natal, passei dormindo a noite da virada do ano. 
Ainda não vivi janeiro, ainda não me situei no tempo e no espaço.
Ainda vou lamentar muito, é do meu feitio. Mas buscando todos os dias me livrar dessa dor, porque ela precisa de mim forte, para lhe cuidar.
Parece dramático demais, numa mulher da minha idade? Pode ser. Mas sou assim. 

"A lamentação é a fixação no ponto infeliz de um determinado problema. Se nos prendemos a este ponto, não verificando outros pontos positivos e outras possibilidades de êxito, nossa mente se fecha na negatividade. Não focalize o fracasso, a dor e a dificuldade, apenas aprenda com as situações à sua volta e faça o que precisa ser feito para sair daquela situação. Lamentar é adiar o dia da melhora. Troque a queixa pelo aprendizado da experiência. Em qualquer problema sempre há uma porta aberta do lado que nós menos esperamos." 
(Texto que li no FB de uma amiga).