Até um dia, mãe!

Depois de um longo verão, aqui estou.
Verão, diga-se de passagem, é minha estação preferida. Mas nem eu estou aguentando esse calorão, algo surreal.
Março promete a "enchente das goiabas",  época de chuvas fortes, que encerram o verão.
Dia 19 é dia de São José, dia previsto para uma chuvarada, que nem tem acontecido mais.
Janeiro chegou com a internação de mamãe, que durou 25 dias no CTI e 32 dias num quarto, aguentando os desmandos da medicina, que não nos ouviu e infligiu a ela um final de vida que, se para ela não foi doloroso, para nós o foi, demais.
Não vamos nos esquecer nunca do que passamos, mas temos a certeza do dever cumprido.
No dia 28 de fevereiro o ciclo de vida de mamãe se encerrou, calmamente, num final de noite de domingo. Eu estava com ela, olhava para ela, mas no segundo final baixei os olhos para uma revista e não a vi se despedir.
Saiu lindamente de cena, serena, sem um suspiro, sem um som. Apenas deixou de respirar.
Não quero falar, evito pensar.
Acabou-se.
Que descanse em paz, mãe. A senhora merece.
E vamos vivendo a vida, às vezes parecendo sem sentido, às vezes parecendo rica demais, pois seu legado foi maravilhoso.
Vamos seguir, e algum dia nos veremos de novo, é preciso acreditar.
João e Malu serão nossa responsabilidade, daremos conta. Se a senhora sozinha conseguiu, por que não o conseguiremos?

A alegria voltará, o sol estará sempre aí, brilhando ou encoberto, os dias se sucederão, e nada vai mudar o que é inexorável.
Agora a sabemos livre, podendo andar e falar.
Ah...A senhora falava tanto! E andava pra lá e pra cá, dando conta de tudo, comandando sua tropa, como uma general.
Mandona, autoritária, séria, não se permitia brincadeiras, afinal a tropa era enorme e tinha que dar conta de tudo.
Deu, afinal. Não ganhou todas as medalhas, mas ganhou as suficientes para provar sua bravura.
Para resumir tudo o que me vai na alma: quem dera meus filhos me amem como eu amei a senhora!

Esta estrela, uma de suas poucas joias, com rubis e um diamante no meio, ela me deu e foi roubada em minha casa, num assalto. Uma grande tristeza  minha. Procuro por antiquários se encontro uma igual, nunca desanimei, mas não encontro.


Não é a melhor foto dela, mas é a última. 4 dias depois ela teve o AVC, que a tirou de nós, desde já, em 10/12/2014.
"Você jamais saberá, querida, a falta que você faz em mim..."