Viver

Viver é um exercício diário. Mesmo quando temos vontade de nem levantar da cama, estamos no exercício de decidir se o fazemos ou não.
Viver nos cobra quase que milímetro a milímetro até o ar que respiramos.
Não existe vida fácil, nem pras meninas que ficam nas esquinas e na horizontal.
Viver é um constante questionamento e se você acha que não, que dá pra levar tudo numa boa, não está vivendo da maneira certa.
E qual é a maneira certa de viver? De bem viver todo mundo sabe.
O jeito certo de viver é esperar de cada dia somente o que ele pode nos dar, ou seja, o que plantamos para colher.
Os dias que são cheios de imprevistos, esses temos que enfrentar e ainda agradecer quando ele acaba.
Viver é descobrir uma cor diferente numa flor diferente.
É sorrir diante de uma situação inesperada, que tinha que nos tirar do sério e no entanto tiramos "de letra".
Viver é acordar com sono, sem tempo para a fome, banho rápido e pé na estrada, pois o trabalho não espera. Ou o chefe.
Viver é esperar o certo e rezar para que o errado não nos aconteça.
Viver é chorar uma perda, seja de um ente querido, de um salto de sapato, de um cabelo que não queríamos cortar, ou deu errado aquela cor.
Viver é aceitar que nem sempre o dinheiro ajuda, pois ele não compra a felicidade.
Viver é essa busca frenética, não é possível que só você não seja feliz!
Não é possível que todos os jardins sejam mais floridos que os seus, nem que a grama do vizinho seja mais verdinha.
Viver é não ter medo, porque se o temos, desanda mais ainda. 
Viver não é esperar que as coisas aconteçam, é lutar todos os dias para que seja realidade o que ontem era sonho.
Viver é respeitar seus limites, nem sempre quem tem pressa alcança o que quer.
Viver "é afinar um instrumento". Só conseguimos harmonia sabendo o que queremos. Ou então, o que não queremos.
Viver não depende da passagem do tempo, visto que viver é agora, nesse instante, pois o segundo seguinte pode nem existir.
Viver é filosofar, simplesmente, sem querer chegar a lugar nenhum.
Só viver. 

O filho predileto


Predileto ou preferido, tanto faz.
Sei de pais e/ou mães que claramente têm essa particularidade, mas não eu.
Claro que há hora que um se aconchega mais, outro paparica mais, outro tem uma lembrança que nos distingue mais.
Mas no coração cabem todos igualmente, por mais que, como filhos, não entendamos isso.
Eu, no meio de 1o, como podia ser a preferida? Não tem jeito, o melhor é nem se pensar nisso. 
Se esta possibilidade lhe passa pela cabeça, ao contrário, de ser preterida/o , pense bem, reveja seus conceitos e, quem sabe, acabe percebendo que muitas vezes a gente se afasta e outro se chega. 
"Quem muito se ausenta, uma hora deixa de fazer falta".


FILHO PREDILETO

Certa vez perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido,
aquele que ela mais amava.
E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu:
"Nada é mais volúvel que um coração de mãe.
E, como mãe, lhe respondo: o filho dileto,
aquele a quem me dedico de corpo e alma...
É o meu filho doente, até que sare.
O que partiu, até que volte.
O que está cansado, até que descanse.
O que está com fome, até que se alimente.
O que está com sede, até que beba.
O que estuda, até que aprenda.
O que está com frio, até que se agasalhe.
O que não trabalha, até que se empregue.
O que namora, até que se case.
O que casa, até que conviva.
O que é pai, até que os crie.
O que prometeu, até que se cumpra.
O que deve, até que pague.
O que chora, até que cale.

E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
O que já me deixou...
...até que o reencontre...


(Erma Bombeck)

Uma foto, duas vidas/O Clube da esquina


Duas crianças sentadas à beira do caminho. Um carro que passa, clicando nuvens.
Anos depois, os meninos resgatados da memória, Cacau caladão, sem sorriso, e Tonho com  a mesma carinha de moleque levado.
Capa de um disco de valor inestimável para a música brasileira. 
O começo do Clube da Esquina, que muitos pensam que seja um clube mesmo, uma sede, quando não passa de uma esquina num bairro de classe média, em Belo Horizonte. Agora vai ter sede mesmo, nas imediações da Praça da Liberdade, onde hoje funciona o SERVAS (Serviço Voluntário de Assistência Social). 
40 anos se passaram entre uma foto e outra. 40 anos se passaram entre o lançamento do disco Clube da Esquina e os dias de hoje.
Um disco que deu à luz os talentos sem fim de grandes nomes da música brasileira. No caso, encabeçado por Milton e um garoto de menos de 20 anos, Lô, que se assustou com o sucesso estrondoso. E teve a participação de nomes que nunca mais sairam do cenário musical do Brasil: Wagner Tiso, nos arranjos, Ronaldo Bastos como  produtor e letrista, Fernando Brant como um dos principais letristas, Márcio Borges, Toninho Horta, Beto Guedes, Tavinho Moura e mais nomes. A época era de ditadura e as letras tinham que ser feitas com cuidado ou não passavam pela censura. 
Letristas jovens, idealistas, revolucionários, querendo um Brasil livre e melhor, devem ter refeito várias, volta e meia...
O Brasil é mais rico, certamente, com tantas músicas e letras lindas produzidas por esta turma que ainda hoje acontece. 
O segundo Clube da Esquina, em 1978, trouxe a parceria de Flávio Venturini, Joyce, Elis Regina, Boca Livre, Gonzaguinha, Chico, Francis Hime, Tavinho Moura, Murilo Antunes, Paulo Jobim (filho do eterno Tom) e o coral Canarinhos de Petrópolis. 
Mas o que achei lindo foi o encontro dos dois meninos, hoje com 48 (Cacau) e 47 anos (Tonho). Meninos que brincavam na rua, na região de Nova Friburgo, amigos de infância, nascidos numa área rural, Rio Grande de Cima. 
Hoje a vida os separou, Tonho  (José Antônio Rimes) está casado, tem 2 filhas e é recompositor de mercadorias em um supermercado de N.Friburgo. E Cacau, (Antônio Carlos Rosa de Oliveira), vive em Rio das Ostras, onde é pintor e jardineiro.
Tonho nem sabe quem é Milton e ainda menos o que foi o Clube da Esquina.
Cacau viu o disco, há muitos anos e desconfiou que era ele na capa, até comprando o CD, mas queria mesmo o LP, que não tinha mais. Pediu o da jornalista que os encontrou, mas não sei se o ganhou.
Meninos pobres, despreocupados, clicados por acaso, Tonho conta que se lembra direitinho do dia, que alguém lhe tinha dado o pão que tem na mão, pois estava com fome e que estava descalço porque só gostava de andar assim. Cacau não se lembra com exatidão.
Duas figurinhas clicadas por um fotógrafo (o pernambucano Cafi - Carlos da Silva Assunção Filho), que procurava nuvens pra colocar numa capa e clicou os meninos sem intenção, apenas ficaram na frente da câmera.
Bem podia sobrar um dinheirinho pra Cacau e Tonho, depois desse encontro, heim?
Afinal, por muitos anos eles foram Milton Nascimento e Lô Borges na imaginação de muita gente.

(Este post foi publicado pela primeira vez no blog EmQuantos, em 22 de março de 2012)

5 comentários:

  1. eles pediram o disco? deveriam mesmo ganhar cache!
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  2. Puxa, que história,heim? Tomara sobrasse uma graninha pra eles...beijos,lindo dia!chica
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  3. Pois é, concordo com você e com a Inaie e com a Chica, devia sobrar mesmo um dinheirinho para eles...

    E Lúcia, eu brinco que esse blog tem alta densidade de História, mas cada dia mais eu vejo que essa afirmação não tem nada de brincadeira, adorei o post e conhecer mais esse capitulo de nossa história!!!
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  4. Adorei as imagens e como elas ganharam ainda mais vida com seu texto! nao conhecia nada dessa historia!

    beijcas
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