Feliz 2015!

Não gosto de anos pares. 
Só depois de muitos anos cheguei a essa conclusão. Não que me acontecessem coisas ruins nesses anos, mas no geral noto que anos pares são mais "pesados".
Pode ser uma constatação boba, só coincidências.
Meu pai nasceu em ano par.
Minha mãe nasceu em ano ímpar.
Casaram-se em ano ímpar.
Nasci em ano ímpar. 
Casei-me em ano par.
Tive filhos em anos ímpares e pares.
Tenho netos de anos ímpares e pares. 
Meu pai morreu em ano ímpar.
Minha mãe adoeceu em ano par.
Certamente tive muitas alegrias em anos pares e muitos dissabores em anos ímpares, mas fiquei com isso na cabeça, embora não espere nada de ruim, de ano nenhum.
E hoje penso que tudo acontece quando tem que acontecer, seja em que ano for.
Par ou ímpar? A vida é cheia de escolhas, do começo ao fim.
Mas a dor é inerente ao ser humano. Como a alegria, a sensatez, a casmurrice, o otimismo, o inconformismo, a fé, a esperança, a caridade, o amor, a descrença, a luz.
Somos todos um universo à parte, sujeitos  a qualquer acontecimento.
E a vida continua, sendo boa ou ruim. O que nos reserva o destino só acaba quando acabamos.
E então, desejo que 2015 lhe traga, antes de tudo, a paz de espírito. 
A força interior que lhe faça aceitar e levar adiante o que lhe faça mal.
E continuar pagando o mal com o bem.
Desejo manhãs luminosas, mesmo que o sol não apareça.
Desejo céu azul, de abril, em todos os dias, mesmo quando nuvens cinzas impeçam de ver a luz azul refletida.
Desejo que 2015 lhe surpreenda com políticos honestos, que não roubem mais. Nem empresários desonestos que alimentem a facilidade de roubarem.
Desejo que todos tenham direito a uma boa escola, o que implica em bons professores e uma infraestrutura governamental para melhores prédios onde se possa estudar.
Desejo que todos usufruam de vida boa, com pelo menos um quarto/sala/banheiro/cozinha que dê abrigo da chuva, do frio, dos horrores da rua. 
Desejo que todos tenham sua saúde garantida por um bom atendimento, com profissionais de qualidade, bem remunerados, com estrutura para trabalhar e atender seus pacientes.
Assim talvez tenhamos mais escolas e menos hospitais.
Desejo que não sejamos distinguidos por cor, crença, dinheiro, cargo, sexo. Somos gente. Cada um igual ao outro, mesmo que pesem as idiossincrasias.
Desejo que estejamos livres para circular pelas ruas sem medo de bandido, de carros, de motos.
Desejo que tenhamos tempo para olhar o céu, visitar parentes, encontrar amigos numa roda, comprar o que precisarmos, sem a euforia de "ter" apenas.
Desejo mais risos, gargalhadas, alegrias.
Desejo o cheiro de bebê, o aperto dos bracinhos de uma criança, a bagunça de uma casa, por estar cheia de vida, com crianças correndo pra lá e pra cá. 
Desejo mais humanidade para o tratamento dos doentes da cabeça.
Desejo alegrias com seu time de futebol.
Desejo que seu chefe seja apenas seu líder, não seu carrasco.
Desejo remuneração adequada, tempo de trabalho humanizado para quem costura nossas roupas, nossos calçados, nossas bolsas.
Desejo o encontro de um amor que lhe faça bem, de alguém que divida os sonhos com você e possam realizá-los.
Desejo que não procuremos tanto a felicidade, pois ela não precisa ser encontrada, ela está conosco o tempo todo. Há quem insista em não enxergá-la.
Desejo que cada momento de sua vida seja vivido com sabedoria, pois sem ela não podemos entender o que nos acontece, algumas vezes. 

Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária
para aceitar as coisas que não podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos, e Sabedoria para distinguir umas das outras.
(Há dúvidas quanto a autoria dessa oração, que vc lê aqui.)

Desejo que tenha consciência de que tudo é possível, tudo pode lhe acontecer, que tudo que é ruim pode se tornar pior, sim, mas também pode se tornar melhor...
E, sim, embora a perplexidade não lhe deixe pensar, em alguns momentos, Ele é todo poderoso e certamente está no comando, reservando-lhe bons momentos.
Desejo que leia muitos livros, assista a muitos filmes, saia para passear no parque, veja seus irmãos todos os dias, ou telefone, cuide dos seus pais, mesmo que lhe pareça um fardo.

"Cerra meus ouvidos a toda calúnia.
Guarda minha língua de toda maldade.
Que só de bênçãos se encha meu espírito."
(Parte da Oração do amanhecer)

Tenha fé que sempre dias melhores virão.
Desejo-lhe um 2015 de paz. 




E então é Natal...



E eu, que sempre contei aqui que não gostava de Natal, agora tenho um motivo real.
Não gostava da data porque achava tudo muito falso, muitos gastos e pouca atenção ao Aniversariante.
Podia achar isso e cumprir a tradição do nascimento, mesmo ele não tendo ocorrido nesta época do ano.
Podia seguir com o ritual católico, o que me agradaria muito mais, mas acabei fazendo como todo mundo, embora nunca tenha me envolvido com essas compras frenéticas, esse consumo desenfreado.
Com  minha mãe forte e saudável, passávamos todos juntos.
Este ano ela nem sabe que é Natal...

E passarei com ela, no hospital, eu e minha irmã mais nova, Mônica, sua "rapinha de tacho", aquela filha que Deus sabe porque veio ao mundo com minha mãe já passada dos 40 anos, depois de 9 filhos. Veio para ser nosso ponto de apoio, embora ela mesma precisando tanto. Mas é forte e tem nos comandado com força e foco.
Eu nem sei o que estou passando, nem dói, de tanta dor...
Às vezes rio, com meus netos, com meus filhos, esqueço a dor por uns momentos. 
Não há sol lá fora, mesmo que ele brilhe intensamente.
A gente sabe o quanto ama sua mãe, mas não sabe que é muito, muito mais do que se pensava.
E eu, que sempre a amei mais do que a mim, estou sem chão.
Tenho a certeza de que fui uma filha muito amada e muito querida. Às vezes me chamavam de "queridinha" dela, isso não é verdade, mas é bom de ouvir.
Impossível passar a data sem desejar que renovem sua fé, que as alegrias sejam muitas, que a paz reine entre os homens, que o amor seja a tônica entre todos os seres.
O amor verdadeiro, que quer a justiça, a solidariedade, o respeito, a fé, a esperança, em partes iguais. 
O amor que nos faça não perder a ilusão, por mais que tudo seja nebuloso.
Há inúmeras perguntas que nos fazemos e não encontramos as respostas. 
No entanto, Alguém sabe de tudo e está no comando. 
Que Ele nos ilumine a todos, nos dê muitas alegrias e esperança de dias melhores.
Feliz Natal!

Há tanta vida lá fora...

...mas aqui dentro de mim não há alegria. 
A vida dá tantas voltas e numa dessas, prostrou minha mãe na cama.
Era um grande medo seu, ficar presa a um leito.
Pode ser revertido, tudo é possível, ainda é prematuro saber.
A vida vem em ondas, como o mar...
E a gente não pensa que tudo, tudo mesmo, pode ficar melhor ou pior, um dia.
E quando a saúde sai de cena é que realmente tudo fica pior.
Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia...
89 anos de vida. Uma vida rica de graças e também de muita luta e tristezas, como é quase sempre, o tempo todo. 
E ela sabe o significado correto de ser guerreira.
Segunda de 7 filhos, perdeu o pai aos 13 anos. Ele, 39 anos. A mãe, 35 anos. 7 filhos e poucos recursos, pois o pai era farmacêutico, dono de farmácia, mas a doença levou todos os bens e só restou a família. Viveram de ajuda dos irmãos, cunhados, avós, bem situados na vida. Nunca nada lhes faltou, a não ser a presença marcante de um pai maravilhoso, amigo e companheiro.
E ela, a segunda dos irmãos, a mais nova com 2 anos, tomou a frente de tudo e tocaram a vida.
Casou-se aos 17 anos, levou mãe e irmãos, aos poucos, para morar com ela. 
Muitas lutas,  muitas alegrias, muita união, mas sempre aquela falta inconformável da perda do pai.
Mais de 50 anos depois, perdeu aquele amor de desde os 13 e novamente a luta foi dura.
2 filhos especiais para cuidar, todos já adultos, muitos netos, muitas alegrias, muita luta.
Autoritária, independente, centralizadora, sempre à frente de tudo. Ciumenta, quer sempre ser o centro das atenções. Sempre bonita, cuidada, vaidosa, chic, mesmo com apenas um vestido e um par de sapatos no guarda-roupas, pq por muitos anos foi assim. Mas era sempre a mais festejada em festas de família, amada por todos os cunhados e cunhadas, sogros, irmãos, sobrinhos.
11 filhos. 10 paridos e uma neta que criou como filha e ai de quem fizer a contagem e incluí-la entre as netas! 
Ano que vem, mais um/a bisneto/a chegando, ou mais de um, pois há algumas netas na parada, para uma gravidez a qualquer momento.
Sou muito parecida com ela, brava como ela, já "tomei conta dela" com a mesma autoridade que ela fez com a gente, porque chega um tempo que os pais se tornam meio filhos dos filhos. Ela relutou muito em "entregar os pontos", tinha mais de 80 anos quando finalmente deixou, não de bom grado, mas com juízo para entender que era  a hora,  que os filhos pouco a pouco fossem tomando conta dela.
Há 2 anos perdeu um filho e passou por isso de uma maneira que não entendemos, uma fortaleza, uma quase "indiferença", que não foi senão um mecanismo para não sucumbir à dor. Porque era um filho muito amado, que especialmente exigiu muito dela, como mãe,  mas que era alguém com quem ela podia contar sempre. E ela pouco falar dele a mim parece que é uma forma de negar que ele esteja morto.
Minha mãe, que Deus tenha piedade e só a leve de nós se for para não sofrer mais. 
Tudo muda, o tempo todo, no mundo. Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo, agora, há tanta vida lá fora, aqui dentro, como uma onda no mar...

O filho predileto

 
Certa vez perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido, aquele que ela mais amava e ela, deixando entrever um sorriso respondeu:
"Nada é mais volúvel que um coração de mãe".
E como mãe lhe respondeu:
O filho predileto, aquele a quem me dedico de corpo e alma é
O meu filho doente, até que sare
O que partiu, até que volte
O que está cansado, até que descanse
O que está com fome, até que se alimente
O que está com sede, até que beba
O que está estudando, até que aprenda
O que está com frio, até que se agasalhe
O que não trabalha, até que se empregue
O que namora, até que se case
O que casa, até que conviva
O que é pai,até que os crie
O que deve, até que pague
O que prometeu, até que cumpra
O que chora, até que cale.
E já com o semblante bem distante daquele sorriso completou:
O que já me deixou, até que o reencontre.
(
Erma Bombeck)
 (Sobre a autora, de quem (supostamente) é o texto: Erma Louise (Harris) Bombeck nasceu em 1927, no estado de Ohio e morreu em 1996. Era uma humorista, então me fica a dúvida em ter escrito um texto tão sério. Publicou 15 livros, dos quais muitos se tornaram bestsellers. De 1965 a 1996, escreveu mais de 4.000 colunas de jornal contando sobre a vida comum de uma dona de casa suburbana do meio-oeste, com muito humor e eloquência.