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Só estamos em planos diferentes

 A Morte não é Nada  
 (Santo Agostinho)

A morte não é nada.
Eu somente passe
i
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?


Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.

Esta oração é atribuída a Santo Agostinho.
Caiu-me aos olhos hoje, dia em que faz 1 ano e 1 mês da morte do Carlos. 
Consola pensar que é verdade, que há uma vida além desta.
Já li esse texto em vários lugares, inclusive em blogs. Bom para pensar.

18 anos depois...

Contato

Eu chamo-te e tu não me ouves.
Estarás atrás daquela estrela, disfarçado
ou oculto numa nebulosa
à espera da palavra que te resgate?
Eu chamo-te e tu talvez me ouças
mas não possas responder-me
porque o vazio da noite não permite
a partilha de sons e de afetos
a uma tão grande distância.

Às vezes bastava-me olhar para o céu
para ter a certeza de que observavas
todos os meus gestos, todos os meus passos.

Era como se as nuvens guardassem 
um sorriso teu no seu bojo de ventos e de chuvas
Adormecia tranquilo no agasalho dessa crença.
Guardo numa gaveta de escrivaninha
a tua carteira, os teus óculos, o lenço
que usavas no dia que partiste.
E já se vão tantos, tantos anos.
De repente dei pela falta de teus telefonemas,
das perguntas inquietas que me controlavam
as horas e as errâncias.
Tinhas medo, um medo terrível de me perder,
e afinal  fui eu que te perdi.
Dizem que foi a vontade de Deus
E agora eu chamo-te e tu já não me ouves.
Ou será que ouves
e que a pequena estrela pálida, trêmula, esquiva
que me ilumina a manhã é apenas
uma forma de o céu escrever a palavra Pai?

(José Jorge Letria)


(Imagem do Facebook)