Violência contra as mulheres/Blogagem coletiva


Por sugestão da Norma, do blog Pensando em família, este é o tema para o Dia Internacional da mulher, 8 de maio. Leia mais, por lá. http://pensandoemfamilia.com.br/blog/blogagem-coletiva/bc-violencia-contra-mulher-2/
Não gosto de dias especiais para uma comemoração que não leva a nada. Todos os dias são para reivindicar o que nos é de direito, sejamos brancos, negros, homens, mulheres, trabalhadores de qualquer área. Um dia para "chamar à atenção" uma situação que já não deveria existir, me parece sem sentido.
Claro que muita coisa mudou, sim, desde o século XIX, quando as mulheres começaram a querer  melhores condições de vida e de trabalho. Foram à luta pelo direito de voto, sentiram sua força com a chegada da primeira guerra, já no séc. XX, quando os homens deixaram suas famílias para lutar e elas tomaram a frente de tudo. Embora as mulheres russas tenham feito grandes manifestações, foi nos Estados Unidos que a data se fixou em 8 de março. E gera controvérsias o fato de ter havido um incêndio em uma fábrica, com a morte de mais de 130 operárias, que ali foram trancadas. Se elas estavam em greve, como foram colocadas nessa fábrica, em tão grande quantidade? Não sei se é fato, então prefiro acreditar que não foi preciso o sacrifício de tantas vidas para que chegássemos em 2015, mais de um século depois, ainda em condições de desigualdade quanto aos  homens.



Mas focando só no tema proposto, a violência contra a mulher existe desde sempre. 
Há as que aceitam, há as que não aceitam e saem da relação, ou saem de casa, quando a violência vem do pai ou de um ou mais irmãos. 
Que sejam perseguidas e  mortas, fato tão comum hoje, mais do que antes, é consequência da educação que esses homens agressores têm. E quem os educa é uma mulher. Que talvez tenha aceitado ser espancada pelo companheiro a vida toda, em frente aos filhos. Isso gera filhos revoltados ou que acham "natural" que se bata em mulher e as filhas acabam encontrando homens que também sejam agressivos, numa ciranda louca, que não para nunca.
Todos nós somos responsáveis pela vida que escolhemos. Ninguém nasce querendo maltratar nem achando normal ser maltratado. 
Somos o reflexo do meio em que vivemos. 
Há os casos patológicos, sim, tanto de homens agressivos quanto de mulheres que aceitam ser vítimas, estão sempre com as pessoas erradas, também frutos de um descaso com sua criação.
Nunca permitir o primeiro palavrão, o primeiro empurrão, o primeiro tapa. Se aceitar a primeira desculpa, outras agressões certamente virão. 
Não esquecendo que a violência não é só a física, há mulheres que vivem uma vida inteira sob ameaças, veladas ou não, e por medo nunca se libertam. Ou por comodismo, por causa de boa vida, viagens, passeios, amigos, valores que se perdem dentro delas, por uma falsa vida melhor.
Moças jovens com homens bem mais velhos; moças sem estudo com homens bem preparados; moças pobres com homens ricos; mulheres mais velhas com homens mais novos, geralmente elas com dinheiro e eles não. São algumas situações que podem levar a uma relação conturbada, mas não necessariamente é regra. 
Homens agressivos e mulheres que aceitam essa agressividade. Eis a questão.
Estar preparada para a vida, tanto intelectual quanto financeiramente, também não é garantia de nada. 
Quando o amor "bate à porta" uma mulher pode deixar todas as suas convicções de lado e "se entregar" ao bon vivant que a seduz. 
Embora se pense que a violência contra a mulher se dê nos meios sociais menos favorecidos, e realmente é maior a incidência, em todos os níveis de vida ela existe. Resta à mulher aceitar ou não essa realidade que lhe seja apresentada.
Homens violentos têm que ser denunciados sem medo. Esse medo é que leva as mulheres a não fazerem as denúncias. 
Muitas vezes eles são denunciados, elas se separam, são perseguidas e mortas, até em frente aos filhos.
Cabe a cada mãe e a cada pai ensinar seus filhos a honrar as mulheres. Honrar, na verdade, o seu próximo,
Cabe a quem cria e educa, ensinar a melhor forma de amar, que é o respeito.
A impunidade gera na maioria dos homens a certeza de que podem fazer o que quiserem com sua mulher, que nada lhes acontecerá.
A verdadeira força que nós, mulheres, devemos ter é a força de saber que ao gerar uma vida, temos que nos dedicar a esta vida. Nossa verdadeira luta será sempre dar ao mundo homens de verdade, que jamais usarão da força para subjugar uma mulher.
E esse "discurso" todo fica parecendo que só nós, mulheres, temos responsabilidade sobre a criação dos "homens de verdade", que habitarão o mundo ideal?
Não adianta falar muito, tudo na vida passa pela mulher, a dona da vida, afinal.
E nossa força tem que estar em nós mesmas, na nossa certeza do valor que temos, da capacidade que temos de tudo poder, inclusive ganhar tão bem quanto um homem, ser dona do próprio nariz. Entendendo que só vale a pena viver junto com alguém que nos admire, nos respeite, seja companheiro de vida, em igualdade. 
Não aceitar nada diferente disso, em nome de um "amor" unilateral.
Deixar de pensar que só um homem nos completa ("homem", aqui, significando outra pessoa).
Uma parte de uma crônica do Fabrício Carpinejar, "Violência contra a mulher".

"Não são apenas cegas de amor, porém também surdas e mudas. O amor roubou todos os sentidos, todo o sentido de suas vidas.

Juram que foi uma exceção quando é a terceira ou quarta vez que a discussão desanda em briga.

Invertem a perspectiva do mundo: a tranquilidade é a exceção em sua rotina e se enganam que é a regra.

Juram que o marido não é violento, que há muita pressão do trabalho, que é efeito da bebida.

Explicam e justificam e argumentam o impossível, naquela mania de se convencer da pobreza para aceitar a miséria.

Ele se arrepende, ele chora, ele promete que não fará de novo, ele se ajoelha, ele manda flores, mas será reincidente.

Para essas mulheres que resistem em segredo, só tenho uma coisa a dizer: quem bate uma vez baterá sempre.

Apanhar por amor jamais melhora o amor."

Não esperemos flores, nem chocolates, nem um jantarzinho, um cineminha, uma transa diferente hoje. Esperemos sempre o respeito, o carinho, o amor. Todos os dias. 
Mas, claro, comemorar é bom, sempre.
(Imagem Tumblr)


11 comentários:

chica disse...

Lucia, tens razão: não há de ser em apenas um dia, mas sempre e isso serve para homenagear, respeitar e valorizar . E a violência, seja da forma que for, é abominável! Linda tua participação! Feliz nosso dia! bjs, chica

Clara Lúcia disse...

Lúcia, essa violência contra a mulher, seja física ou moral, é um caso muito grave.
Não é que muitas aceitam, mas sim que ficam perdidas e não sabem o que fazer e a quem recorrer. A destruição da autoestima acaba com qualquer mulher.
Qdo eu era jovenzinha e tinha um namorado, ele às vezes me ofendia. Perguntava pra um, pra outro, o porquê que ele me agredia e depois dizia me amar... "é assim mesmo", era a resposta que eu sempre tinha.
Mas depois de anos, muitos anos, eu decidi que não, que não era assim não...
É uma longa história...
Que todas nós nos saibamos respeitar e valorizar mais, e, claro, denunciar sempre!
Beijos e um excelente Dia da você!

Cristina Pavani disse...

Olá Lucinha!
Tenha um oito de março repleto de serenidade!

Discernimento para aquelas pessoas que não conseguem se desvencilhar de outrem que lhe oprimem.

Abreijos!

pensandoemfamilia disse...

Oi Lucia

Seu texto sempre tão espontâneo traz o sentido da indignação e do chamamento para um cotidiano em que todos temos responsabilidades: educar.
A violência tem sido nota cada vez maior dos meios de comunicação, seja ela contra mulher ou todas as demais que temos vivenciado.
Que nossa voz não se calem, que nossas atitudes sejam firmes em direção a um mundo mais terno.
Obrigada pela adesão a BC.
Bjs

Calu Barros disse...

Lucia,
tua excelente abordagem detalha os indevidos acontecimentos que atravessam séculos de afrontas desmedidas contra as mulheres.
Não deveria haver uma data destas pra marcar ausências e sim para reafirmar reverências e valorização.

Abraços,
Calu

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Lúcia
Que post mais bem feito!!! Tão completo que enriquece a quem é brindado ao passar por aqui...
Parabéns pela escrita e pelo dia de hoje!!!
Bjm quaresmal

Luma Rosa disse...

Oi, Lúcia!
Acho justo ter um dia para lembrarmos do grande esforço de mulheres que lutaram pelos direitos que hoje gozamos. Se não houvesse esse dia de comemoração, estaríamos falando da nossa condição "mulher"? Não falamos normalmente... somos coniventes com o sistema que ainda mantém mulheres sob o domínio da escravidão, de crianças que nao nascem por serem meninas, das mulheres que têm seus orgãos sexuais mutilados... ainda existem muitas mudança para acontecer no mundo.
Boas comemorações!!
Feliz dia!!
Beijus,

Marina Carla disse...

Gostei muito da imagem que postastes ( mais lutas, menos rosas...) pois é isto que queremos, nesta data e em todos os dias do ano: reconhecimento como seres humanos plenos em direitos, dignidade e humanidade, e não "lembrancinhas" que desencarregam a consciência dos que oprimem, para nos dias seguintes continuarem apoiando a violência física e verbal.
Ótima postagem!
Boa semana
Marina

Toninho disse...

Pois é Lucia, esta questão da relação que apodrece, não pode ser como de uma fruta descartada numa lata de lixo. É preciso uma ação rápida de família, autoridades e da própria pessoa. Nada de ficar esperando a segunda,a terceira agressão. Conheço vários casos próximos que culminaram com a morte e de forma perversa.Eu não sei o que falar mais desta onde de violência com a mulher em todos os níveis. A não aplicação das leis nos casos. O abandono da mulher que denuncia. Lembro bem do caso daquela cabeleireira ai de Belo Horizonte,l que era de uma cidade perto da que eu nasci e conhecia os familiares.Já se conquistou belos passos é verdade, mas a questão violência esta em passos de tartaruga e vidas estão sendo ceifadas.
Basta com esta coisa feia.
Ainda vamos comemorar este dia numa grande festa de alegria.
Parabéns a você e a todas mulheres de sua família e parabéns pela participação neste grito.
Meu terno abraço de paz e luz.
Uma linda semana a voce.

Beth/Lilás disse...

Lúcia, teu post tá bonito e bem exposto, e como você, também não concordo e nem gosto desses dias de celebração, pois preferia que fosse o Dia do Ser Humano, um dia em que homem e mulher celebrassem juntos a beleza de estar aqui, neste planetinha, vivendo e aproveitando o melhor da vida.
Mas, criaram a data para lembrar daquelas que sofrem, daquelas que são agredidas, das que não são respeitadas em seus lares e trabalhos, daquelas que são violadas precocemente, daquelas que por uma fé cega são humilhadas e obrigadas a ficarem caladas, daquelas que são o esteio de toda uma família, enfim ... de mulheres como nós, que mereciam ser tratadas com carinho e beijos, com ternura e respeito. É tudo o que queremos e merecemos!
um grande abraço carioca


Anônimo disse...

Como eu sou contra qualquer tipo de violência QUALQUER ... esse tipo também me causa repulsa