Com pouco mais de 1 ano de casamento engravidei mas tive um aborto espontâneo.
Quando fiz 3 anos de casada, já tinha um bebê de 4 meses. Então foi tudo no vapt-vupt.
Quando meu bebê ia fazer 2 anos de idade, tive a segunda.
E quando a segunda tinha 1 ano e 4 meses, tive o terceiro.
3 cesáreas, 3 bebês que mamaram pouco no peito, pois tive dificuldade para amamentar, e muita desinformação, e a vida estava completa.
O modelo "namorar-noivar-casar-ter-um-filho-ter-outro-filho-três-tá-bom" foi seguido à risca.
Ser mãe não me fez mais mulher. Não me completou. Não me fez padecer no paraíso.
Esqueci-me dos choros, das noites em claro, das febres, das dores, das birras.
Lembro-me das alegrias: os primeiros passos, as primeiras palavras, o primeiro dia de aula, o dia em que aprenderam a ler, as primeiras festas, os amiguinhos, as professoras, as escolas.
E em cada lembrança tenho em mente que fui a melhor mãe que podia ser.
Com toda a chatice, com todas as palmadas, com todos os gritos, com todas as frases-chave, que povoam o universo das mães.
Sim, já tive vontade de sair correndo.
De trancar a porta do quarto e não sair mais lá de dentro.
De passar uma semana sozinha, seja onde for.
De chorar por medo de perdê-los.
De pedir a Deus, Senhor, "não me deixe morrer antes que meus filhos saibam se cuidar sozinhos".
Daí, passei a pedir que os visse se formarem e ter um bom emprego. E tantos, tantos outros pedidos.
Ser mãe não faz de nenhuma mulher um ser melhor, mesmo que a alguns possa parecer.
Embora a maternidade seja divinizada pois somos as portadoras de uma vida nova, ser mãe pode ser uma tarefa ingrata, cansativa, monótona,
Parir é fácil. Difícil é criar e colocar de pé um ser humano digno.
Ser pai ainda parece que é apenas ser o provedor.
Dos pais é "cobrado" pouco, volta e meia as mães são as "culpadas" pelos "defeitos" dos filhos.
Às mães destinaram a parte difícil de criar.
Li essa frase no FB e fiquei pensando no quanto ela tem de verdade ou não.
Não que muitos maridos não façam pelas mulheres coisas das quais não gostem, mas aí eles são vistos como exemplares.
Uma frase dessas me derruba. Isso não é amor, isso faz parte do amor, mas não significa nada.
Ela pode odiar com todas as forças do seu coração fazer esse café, mas foi ensinada que fazia parte das suas atribuições de mulher, esposa, dona de casa. Ou que, mesmo não gostando de café, não custa nada passar um cafezinho para quem quer que seja.
Minha nora não toma café, mas faz café para o meu filho, não todos os dias, mas sempre que ele quer.
Uma das minhas amigas não toma café e faz café todas as noites para o marido, não porque ele peça, mas ela já incorporou à sua rotina e faz no automático, nem acha que seja um ato de amor. Só faz porque realmente o quer.
Ser mulher e mãe leva-nos a atribuições rotineiras, nem sempre prazerosas, mas necessárias, para sermos "aceitas" como mulheres perfeitas, legais, cumpridoras de seus deveres.
Ser mãe não é simplesmente parir, essa é a parte fácil, sempre digo e repito.
Ser mãe é uma decisão delicada e se formos pensar em todas as suas implicações, teríamos um lado bom e um não tão bom.
Ser mãe é "apenas" um questão de se conscientizar que nem tudo é um mar de rosas, mas tudo vale a pena!
(Não sei pq a frase entrou no texto, a do café, mas acho que "mãe" e "mulher" , no sentido de "esposa", levam sempre a pensar em submissão, em dedicação extremada, em perfeição, e isso me irrita profundamente!)
13 comentários:
Gosto muito de te ler e quando derramas o coração, muito bem o fazes!
Todas nós, mães , temos momentos de maravilhosas lembranças, porém temos sim, outros de cansaço extremo.
Há problemas, temos que resolver da forma que conseguimos, com ou sem ajuda do pai, que trabalhava o dia todo fora. Assim, não acho, de forma alguma que somos ou devemos ser vistas como perfeitas ou santas, mas lutadoras, garrentas, isso sim. Fazemos o que dá ou não dá pelo amor à família! E isso é muito legal! Nem sempre tuuuudo (ou todos) dá certo, mas tentamos! beijos,chica
Oi Lucia, é a Vi,estou admirando sua humildade de dizer que ser mãe não te faz um ser melhor, porque a gente cansa de ouvir essa frase e quando a gente já tem muitos quilômetros de vida rodados, é um observador atendo do cotidiano, a gente sabe que isso é um tipo de lavagem cerebral: fazer com que a mulher mãe seja submissa,se conforme em levar tudo nas costas, porque é um ser especial, iluminado e etc.
Beijos,Vi
Olá querida, que texto lindo, de fato é cobrado tanto das mães e tão pouco dos pais, é comum verem mães, que são mulheres guerreiras que criam um, dois ou três filhos sozinhas, trabalhando, fazendo o que podem e o que não podem, sem levar tanto reconhecimento, mas quando um pai solteiro faz isso parece que é exemplar. Maravilhoso o texto.
O que eu acho é que não sentimos mais a obrigação de ser mães abnegadas, sofridas, dedicadas...
Somos "fulana de tal" gerando, amando e educando. Do melhor jeito, mas do nosso jeito.
Bem melhor assim...
Oi Lúcia,
concordo com você e, nos tempos idos, de minha mocidade, sempre lutei contra esse endeusamento da mulher-esposa-e-mãe, que é mais uma forma de discriminar e escravizar a mulher. Uma lavagem mental com objetivos bem definidos: fique quieta aí, não reclame! Mas esse panorama deu uma melhorada em 1962, com o advento da Lei 4.121, que mexeu um pouco com as mulheres (eu era dessas que subia nas mesas e discursava, a favor da lei, quando estava ainda em tramitação, rsrsrsrs, porque me angustiava profundamente ver que muitas mulheres se sentiam as tais, com o tal endeusamento, e nem se preocupavam com seus direitos. E sem direitos civis, ninguém é nada.) Mas hoje em dia, sabe o que me impressiona? É ver aqui no fb, por exemplo, uma propagação dessas mentiras idiotas e melosas sobre a mulher-mãe-esposa. Será mesmo que elas querem retroceder, querem voltar a serem as rainhas do lar? Acham mesmo que a maternidade as santifica? Ah, são tantas coisas... -- Parabéns pelo texto, um desabafo e ao mesmo tempo um rico apanhado histórico.
Bjs
Marli
Blog da Marli
É, Lucia... eu ainda me pego morrendo pelos momentos difíceis, aqueles em que a 'sociedade nos cobra perfeição' e nós não conseguimos. Eu desoriento, rs
Mas é isso... fazemos o melhor que a gente pode! Erra, acerta e o pior é que, com essa nova 'lei das redes sociais', somos extremamente julgadas... Então muitas vezes eu ligo aquele botãozinho do 'F*" e bola pra frente! Sejamos humanas tbm! rs
Bjks
Hoje vim te ler um pouco. Gosto muito da maneira que expõe suas idéias. É isso. Mãe somos e da melhor maneira que sabemos ser. Ponto. E assim que deve ser.
Beijo grande Lúcia !
Lucia, voltei pra te agradecer o carinho! Se me visses . Encasacada, com estufa ligada e um frio de cão!agora kiko esta na calma, descansando ,foi bem agitado, muita coisa na Itália. Coisa boa mesmo isso por lá! E a Neca falou que foi difícil ver as despedidas do kiko com todos os de lá...Sempre é, mas à medida que o tempo passam pior ainda! São bem velhos e muitos nem veremos mais! bjs, linda semana,chica
Super admiro sua capacidade/coragem de escancarar a verdade - quanta gente pensa,mas não ousa dizer?
Quanto a ser mãe, Tb acho que é muito mais criar com comprometimento do que apenas dar à luz. Minha Mãe,até hoje, manda a gente escovar os dentes, lavar as mãos,etc. Ela é muito FOFA! Aposto que seus babies pensam a mesma coisa de Vc! Bjsssss
Oi, Lúcia!
Fomos criadas com um Deus masculino em nossas vidas, que bem poderia ser uma mulher, afinal, os anjos não possuem sexo. Não sei porque afirmam que Deus é homem... Enfim, todas as atribuições dadas as mulheres no passado eram para elas se sentirem necessárias dentro de casa. Ser mãe e dona de casa exemplar, esposa perfeita e carinhosa... isso tudo cabe aos dias de hoje, se o homem também faz a sua parte.
Enquanto a mulher carrega um filho em seu ventre, ela corre risco de vida, pois a natureza de seu corpo tenta expulsar a criança. Ser mãe deveria ser encarado como um ato de coragem, mas nem para isso as pessoas colocam os pés no chão e se arriscam a engravidar sem programação.
Ser mãe pode ser um projeto de vida, pois muitas nasceram somente para isso. Respeito muito as escolhas de cada mulher, seja a que quer ser serviçal da casa ou que impõe a sua vontade - cada um sabe da sua dor.
Só não concordo com a mulher que toma para si o papel de mártir e que leva a frase "padecer no paraíso" ao pé da letra.
Que seja a mulher quem ela queira ser, por opção, mas não diga que não teve opção, pois isso realmente não existe. Quem realmente quer, vai e faz!
Ser mãe é ser o porto seguro, o colo, o aconchego...
Beijus,
Bem, Lúcia, tanto você quanto as amigas acima, colocaram pontos e reflexões sobre o tema e eu tenho pouco a acrescentar, apenas o que sempre disse com relação ao que fazemos pelos filhos, ou seja, tudo o que fazemos é por amor, mesmo quando erramos, mas pretendíamos fazer o melhor, porém somos humanos, imperfeitos, né mesmo?
Um beijo grande carioca
Oi, Lucinha!
Adoro quando você lança mão deste tipo de texto, pois expõe uma Lúcia verdadeira, humana, de carne e osso como nós.
Também nunca quis ser mãe-amélia; fiz faculdade depois de casada, trabalhava fora (e ainda) para ser eu mesma, apesar de mãe.
Me desdobro pelo filho e marido, contudo de desdobro mais ainda por minhas metas, minha identidade e aconchegante companhia de uma "mim mesma".
É um peso muito grande ser mãe-de-pedestal; já basta a onerosa função de mãe natural, trivial.
Grande beijo à Lucinha pessoa, plena em si.
Oi Lucia,
Puxa, enfim um texto que diz muito do que sinto, mesmo não sendo mãe.
A verdade é que tenho muita vontade de ser mãe, mas morro de medo. Essa perfeição me assusta.
A posição de algumas mulheres em dizer que só se sabe o que é amar de verdade, me intriga e me deixa até com raiva.
Quer dizer que quem não pode parir nunca vai conhecer o amor? Ou que a mulher que decide não ter filhos é incompleta?
Eu sou filha e muitas vezes chorei com a minha mãe ao ver seu sofrimento por outros filhos...a carga pode ser doce, mas é pesada. E acho mesmo que não sao todas que tem o preparo para tanto. E mãe só se é na prática, não é?
Sobre o café, submissão, etc, eu concordo com você. A gente pode até romantizar as situações, mas nem sempre é um ato de amor. Eu todo dia recolho a toalha do banheiro que o marido deixa esticadinho (mas eu odeio banheiro cheio de toalhas molhadas). é um ato de raiva. Enquanto que ele recolher os meus calçados que vou deixando em cada canto faz dele um 'fofo'.
Ihhh, escrevi demais. beijos
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