A senhorinha e o filtro solar


Quanto mais amadurecemos, mais temos que ver tudo com leveza.
Amadurecer passa por aí, por aprender a valorizar o que se tem, sem sofrer pelo que se quer.
Amadurecer é "amolecer" também. É não levar a vida tão a sério, saber dosar tudo e de tudo tirar proveito.
Quando jovens, temos pressa e não adianta nos dizerem para ter calma, tudo a seu tempo. 
Para os jovens, vale o hoje e tudo tem que ser feito já.
Quando "amolecemos", deixamos de ter urgências e passamos a ser mais contemplativos.
Regra? Não, claro que não.
Leio textos e textos falando da mulher madura, da velhice, do que deixamos para trás e do que priorizamos. Não é fácil entender as limitações naturais, é preciso desacelerar. Mesmo porque, o pensamento ainda voa, mas as pernas...
Ontem estava na farmácia e uma senhorinha se postou ao meu lado, prontamente atendida por 2 balconistas. Pequenina, mirrada, pele cheia de marcas da idade, manchas senis misturadas com manchas de sol. E queria saber como tirar aquelas manchas. As moças recomendaram filtro solar. Marido ouvindo e depois delas muito explicarem, ele complementou que o filtro tinha que ser passado também no rosto e pescoço. Porque elas enfatizavam muito as manchas dos braços, acho que conheciam a senhora, farmácia de bairro, devia sempre estar por ali. E, conversa vai, conversa vem, ela soltou: "Minha filha mais velha tem 84 anos. Eu vou fazer 100 anos em janeiro do ano que vem". 
E nós, embasbacados, no máximo eu lhe dava os 84 anos da filha mais velha... E ela, pressurosa, tirou os documentos do bolso de um vestidinho simples, bem feito, estampa bonita, e lá tinha tudo: cartão de banco, cartão do plano de saúde, carteira de identidade. 16 de janeiro de 1916. 
E eu, comentando com a moça que me atendia: como é que a família deixa que ela saia sozinha?! 
Mas não estava. Depois, no caixa, vi que estava com uma filha, uma mais nova, uns sessenta e poucos, não a de 84 anos. 
O andar era vagaroso, as marcas do tempo eram muitas, mas a voz era firme e a vaidade de querer a pele bonita, sem manchas, era o motivo dela estar ali. Não sei se comprou o filtro solar, a filha não tinha cara de bons amigos, vai ver nem deixou. Ou comprou, sei lá, não reparei.
A vida é isso, estar de pé, preocupar-nos com a estética, em vez de choramingar pelos cantos.
O amadurecimento físico é natural da vida. É hora de pensar menos e agir mais em função de nós mesmos, e aí não tem a ver com idade. Pensar mais, mudar de ideias, falar menos, agir com sabedoria e objetividade. 
Quem sabe, chegar aos 100 anos de pé, querendo que a pele fique mais bonita, mais "clean".





12 comentários:

chica disse...

Muito9 lindo ,Lúcia! Eu ando mais pra pensar que tomara possa ficar bem, independente e azar pro resto. Pelancas, rugas, o que vier. Mas eu inteira por dentro ,rs bjs, chica

MARILENE disse...

Gostei muito de ler sua postagem. Minha mãe era vaidosa e algumas vezes impedi que adquirisse alguns produtos. É que, se alguém lhe dissesse que algo faria bem, para o que quer que fosse, ela queria tomar/usar. E eu tinha medo que lhe fizesse mal. Pode ser que a filha dessa senhora tenha pensado que, em sua idade, não valeria a pena usar filtro solar. O desejo dela, porém, mostrava que gostava de si mesma, o que é lindo. Bjs.

Maria Izabel Viegas disse...

Lúcia querida,

Seu post está uma delícia de se ler.
E eu aqui , quase aos setenta, meia zangada com umas preguinhas no pescoço.
Como assim?! Ontem não tinha!!!
São ruguinhas e pelanquinhas que aparecem do nada!!!!!!!!
Não é justo!risos
Mas é isso, importante é envelhecer com classe.
E uma das minhas razões para não me incomodar é olhar a beleza e frescor dos meus filhos e noras.
Tudo e todos a seu tempo!
Lembrei-me aqui da minha mãe Maria, vaidosa, mas que me deixava louca: chegava aqui em casa e passava no rosto e pescoço aquele Hipoglós antigo, 'fedegoso' e grudento.
Eu tinha que ficar atrás dela para se deitasse em algum lugar, antes eu colocar uma toalha( para não manchar meus sofás)
Um beijão, minha amada!

Poções de Arte disse...

Gostei, Lúcia!
Esse correr desenfreado dos jovens é normal... Vejo como eu era e como sou. Como diz o ditado "nada como um dia depois do outro!". Aprendemos como os erros, as dificuldades nos torna humanos e vamos seguindo. Felizes os que aprendem com as derrotas, felizes os que sabem agradecer os dias que vivem e sabem dividir amor e perdão. Sempre me encanto com pessoas de idade, assim, independentes, fazendo suas coisinhas no dia-a-dia.
Bom post.
Ótima semana, abração.
Márcia.

sheyla xavier disse...

Lucinha,
Minha nossa, que coisa, que história linda. Essa senhora é de dar orgulho e nos faz pensar/refletir tantas coisas.
Tenho ainda um longo caminho a percorrer, queria tanto amadurecer, sou tão infantil ainda kkkk

Bjokas e uma linda semana,
http://www.dmulheres.com.br/

Clara Lúcia disse...

Perfeito! Eu só lamento meu corpo não acompanhar minha mente, mas eu gosto da idade que tenho. Não tem escolha, né? rsrsrs
Ter saúde é uma dádiva e Deus queira que viva até mus últimos dias com saúde e lucidez (eu escrevi sanidade, Lúcia, acho que a mente também não está acompanhando nada... kkkk)
Beijos e ótima semana, maninha!

Shirley Brunelli disse...

O coração não envelhece, dizem...o resto, sim. Que tenhamos lucidez então.
Belo texto, Lúcia.
Abraços!

Élys disse...

Já caminhei muito na estrada da vida e creio que o importante é procurar viver cada dia buscando fazer aquilo que a gente gosta de fazer para se sentir bem, claro, que a ninguém prejudique. Viver bem o presente, com qualquer idade, certamente, nos trará um futuro feliz, seja ele, daqui a pouco ou mais distante.
Um abraço.
Élys

Nadja disse...

Olá Lúcia!

Ao enviar um comentário para Maria Luiza (Casa da Alquimia), não pude deixar de ler o seu, por sinal, a mesma coisa que penso a respeito da Simplicidade.
Então, pensei, vou visitar essa moça!
E, para minha surpresa, vi que é mineira. Só podia ser.
Os mineiros, povo que tanto gosto, são pessoas simples e sensíveis à flor da pele.
Simplicidade? Pense em Minas Gerais.
Olha, gostei muito do seu espaço tanto que estacionei a minha bike por aqui.
Permita-me levar parte do seu comentário para ser publicado no meu post,
na sexta-feira?
Ficaria feliz se a resposta fosse "sim"!
Você é amiga da Rosélia? Grande pessoa!
Amei seu post. Você escreve com o coração.

http://nadja-cacarecos.blogspot.com.br/

Lindo dia!



Bjksss

Maria Glória disse...

Lúcia, eu ri com a fala da senhorinha, sobre a idade dela e da filha rsrsrsrs.
Gosto muito de ler o que escreve eu ri gostoso aqui, pois lembrei da minha nonna, que de tanta vaidade, me fez prometer que eu iria pintar as unhas dela quando morresse, para ficar com as mãos bonitas no caixão. E gostava de esmalte vermelho. E eu, assim fui prontamente fazer quando ela faleceu, mas minha tia não deixou. Se eu fosse adulta, acho que teria conversado com minha tia e pintado as unhas da nonna a todo custo.
Adoro, para não perceber o tempo passar, estas suas histórias.
Um beijo querida s2

Ana Seerig disse...

Logo que comecei a ler, lembrei do Sabino. "Nasceu homem e morreu menino." Acho que todos devíamos ser assim, hein? Se desprender das coisas materiais, da pressa... Ainda mais hoje, em que as crianças são cada vez menos crianças. Adorei, Lúcia!

O Profeta disse...

É tudo tão breve
Habitamos as pedras
Inventamos sonhos
Vislumbramos quimeras

Mas, falemos dos suspiros dos pássaros
Falemos de ti
Nas irreprimíveis asas dos anjos
Na noite primeira dos mil encantos



Um radioso fim de semana



Doce beijo